
Representatividade importa.
Essa frase, que ganhou força nos últimos anos, não é apenas um slogan. Ela carrega um impacto profundo na construção da identidade, da autoestima e do senso de pertencimento de grupos historicamente invisibilizados.
Quando falamos sobre pessoas surdas, a escassez de personagens na televisão, no cinema e na literatura revela o quanto ainda precisamos avançar em inclusão comunicacional e cultural.
Crescer sem ver ninguém como você nas telas, nos livros ou nos heróis das histórias afeta diretamente a forma como você se enxerga no mundo.
Para muitas pessoas surdas, essa ausência leva à sensação de que sua experiência de vida não importa — ou é uma exceção. E quando personagens surdos aparecem, muitas vezes são retratados de forma estereotipada: como “limitados”, “inspiradores” apenas por existir, ou com foco exclusivo na “superação da deficiência”.
Esses clichês não apenas empobrecem a narrativa, como reforçam uma visão capacitista.
O que precisamos são de personagens surdos complexos, diversos, humanos — protagonistas de suas próprias histórias, com desejos, contradições, falhas e conquistas como qualquer outro personagem.
A potência da Libras nas narrativas visuais
A Libras, como língua visual-espacial, possui uma expressividade única que pode (e deve) ser explorada de forma criativa nas artes visuais e audiovisuais.
Filmes e séries que a incorporam com respeito e fluência não só tornam suas obras mais inclusivas, como também apresentam ao público uma nova forma de perceber a linguagem e a comunicação.
Exemplos como o filme No Ritmo do Coração (CODA) ou a série Switched at Birth mostram como personagens surdos podem enriquecer a trama, além de gerar debates potentes sobre família, identidade, cultura surda e acessibilidade.
Ter personagens surdos na mídia não significa transformar cada obra em uma “aula sobre surdez”.
Pelo contrário: o ideal é que estejam presentes como parte natural da diversidade humana, sem que a deficiência auditiva seja o único aspecto relevante da personagem.
É sobre ver uma médica surda, um super-herói que usa Libras, uma adolescente surda vivendo seus dramas amorosos, um detetive surdo solucionando mistérios…
Esse tipo de representação naturaliza a diversidade, amplia horizontes e contribui para um mundo onde ser surdo não signifique estar à margem.
Representatividade também gera oportunidade
Mais personagens surdos nas obras culturais abrem espaço para mais profissionais surdos no mercado: atores, roteiristas, intérpretes, consultores culturais, criadores de conteúdo.
É um ciclo virtuoso que fortalece a cultura surda e estimula a produção artística acessível, rica e plural.
Quando jovens surdos se veem representados, eles se sentem autorizados a sonhar mais alto — seja em ser artista, escritor, comunicador ou simplesmente reconhecer que seu jeito de existir é legítimo.
Precisamos de mais personagens surdos na TV, no cinema e na literatura porque a inclusão não acontece apenas com leis ou rampas — ela também se constrói com histórias.
E toda criança merece se ver como protagonista do mundo.
Que venham mais narrativas com e sobre pessoas surdas. Com respeito, autenticidade e pluralidade.